De volta às origens...
Todos os Domingos de manhã era a mesma coisa, o vestido branco rodado com cheirinho a sabão, ao fundo da cama, à minha espera. "-Está na hora Leninha!". A missa era ponto de honra, numa aldeia onde todos se conheciam. Para mim era só mais uma maneira de encontrar a minha amiga das férias de Verão, e trocarmos olhares e caretas! Após o "-Que Deus vos acompanhe." corríamos para a nossa casa de tábua, onde moravam as nossas bonecas, os nossos tachos e panelinhas, onde cozinhávamos folhas de videira e "comíamos" bifes de lama.
O Domingo era o único dia da semana em que não íamos para as fazendas; nos restantes dias, a meio da manhã, lá íamos nós, eu de contrapeso no cesto da burra. Só ao final do dia, já com o sol a esmorecer, regressávamos a casa; a porta de madeira, o chão de cimento, ao fundo a arca com os pães cozidos no forno da ti Joaquina, o grão, os feijões, os bolos ferradura que normalmente acompanhavam o café ou satisfaziam a gulodice de uma menina - o café..... é difícil esquecer o som ritmado da colher a rodar na cafeteira -toc, toc, toc, e o cheirinho que inundava a divisão.... - ao fundo o fogão a lenha, de onde saíam as sopas mais saborosas que alguma vez comi - ao lado um banco feito da base de árvore onde me sentava e, enquanto a minha tia tomava conta do jantar, eu dizia: "-Tia conta-me a estória do homem dos pés tortos!", e quando acabava "-Tia agora a dos meninos e os rebuçados!", e ela com a paciência de uma pessoa cheia de amor, contava-me as estórias sempre como se fosse a primeira vez!
Fui feliz, na simplicidade e austeridade da vida no campo, fui feliz.
A ti tia agradeço as vivências, as partilhas, o amor!
Com vocês, e No Reino da Prússia, partilho um café, na certeza de que o aroma do da minha tia jamais será esquecido.
6 comments
É tão bom regressar às origens. Este café trouxe-me à memória o café de borra do lanche da tarde onde molhava um pão com manteiga. Claro que depois do pão terminado não bebia o café que restava porque não gostava da gordura que lá ficava, mas estas sopas eram uma delicia.
ResponderEliminarBeijinhos
é realmente muito bom...e eu tenho tantas e tão boas recordações da minha infância, principalmente dos verões que passava com esta tia. Escrever esta pequena estória deu-me um prazer enorme e envolveu-me numa nostalgia tão boa!!
ResponderEliminarObrigado Carla pela sua partilha também!
E deu-me a mim um prazer enorme ler esta estória, Marta! :)
ResponderEliminarCom as suas palavras, viagei à sua Aldeia, cozinhei com as folhas da videira, comi o pão da Ti Joaquina e ouvi as estórias dela, sempre enebriada pelo aroma do café, que adoro! E lembrei-me tanto da Aldeia dos meus Bisavós! Com eles, andei também de burrito, quando era criança! :)
Muito obrigada pela sua participação, que tem mesmo o espírito que a celebração do aniversário do Reino da Prússia pede!
Beijinhos
Sofia
Obrigado Sofia! Acredite que foi mesmo um prazer participar no seu passatempo.
ResponderEliminarUm beijinho
Uma boa História é sempre servida com um café... E foi assim que o fiz, servi um café e vim aqui cheirar o aroma do café da Tia, as suas Histórias e claro está relembrar as minhas que conto vezes sem conta a minha filha ...
ResponderEliminarObrigada pela viajem ao passado e beijinhos
Carolina e Margarida
Adorei a vossa companhia! Um beijinho
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