Esquecidos por muitos vão certamente os tempos em que era tradição em Alenquer, na semana santa, fazer e comer arroz de castanhas piladas.
Tão esquecidos, que eu
não tenho memória desses tempos.
Embora ainda haja
algumas famílias e restaurantes da zona que tentam recuperar esta tradição, o
facto é que cada vez menos são as pessoas que conhecem e que fazem a receita.
Para isso também
contribuirá seguramente o facto de quase já não se conseguir encontrar
castanhas piladas à venda. Encontrá-las é quase como que encontrar um tesouro.
Lembro-me bem de a
minha tia as ter, como tinha tantos outros frutos secos. E mesmo quem não as
fazia tinha a facilidade de encontrá-las à venda nas feiras, ou nas mercearias.
Além de usada em
variadas receitas salgadas ou doces, a castanha pilada era também comida como
se de um rebuçado se tratasse. Um rebuçado precioso. Punha-se na boca, e
depois, lentamente ia-se deixando que a castanha se fosse hidratando, até que
se desfazia e libertava todo o seu sabor. Um sabor único. Disso sim tenho
memórias! Memórias de miúda!
São as memórias que
me dão mais prazer na arte da culinária. Aquele sabor, aquele aroma, aquele
determinado ritual à volta de uma determinada receita, e as lembranças afloram.
Lembramos locais, pessoas e momentos especiais….. e isso é o mais delicioso de
tudo.
Na tentativa de
avivar memórias, e contribuir para que esta receita e tradição não se percam, trago-vos
o arroz de castanhas piladas.
Importa lembrar que, num contributo
histórico, que “em várias localidades da região
oeste o arroz de castanha pilada era um prato recorrente durante a semana santa
– “quinta-feira santa, sexta-feira de paixão, sábado de aleluia e domingo de
ressurreição” – principalmente na quinta-feira e na sexta-feira, altura em que
se fazia um jejum mais rigoroso e não se comia qualquer tipo de carne. Nesses
dias era habitual as famílias comprarem nas mercearias locais um pacote de
castanha pilada (castanha descascada e seca) para confecionarem este prato que
era servido como refeição principal e não como sobremesa. Vários relatos
referem que na quinta-feira e sexta-feira santas o arroz de castanha pilada era
“comido até se ficar enjoado, não se comia mais nada nesses dias”. Em relação à
receita atual, alguns testemunhos referem que antigamente o prato era
confecionado apenas com água, sem leite e com menos açúcar.” – Texto in Memoriaimaterial Saberes e
Sabores Tradicionais
Importa salientar que a elaboração desta
receita só foi possível com o contributo da Sweet Castanea, que acredita que a castanha pilada
continua a ter o seu espaço, e apostou na sua comercialização. Um bem-haja.
E para os que tiverem curiosidade e
queiram (re)avivar memórias, vejam este vídeo:
Não se vão arrepender. Garanto.
Ingredientes:
1kg de Castanha Pilada Sweet Castanea
1kg de Arroz Carolino Pato Real
1Lt de Leite
4 Paus de Canela
800g de Açúcar
125g de Manteiga
Sal q.b.
Canela
em Pó para decorar
Nota: As quantidades apresentadas estão tal qual a receita original que encontrei, e que a ser usada como refeição principal durante a semana santa não são quantidades exageradas; contundo, e uma vez que não usei a receita para esse fim, tive necessidade de adaptar as quantidades. Neste caso usei 200g de Castanha Pilada Sweet Castanea, e ajustei os restantes ingredientes.
Modo de preparação:
Deixe as castanhas
piladas de molho de um dia para o outro.
No dia seguinte,
coza as castanhas com um pouco de sal.
Quando a cozedura
estiver concluída escorra as castanhas e reserve a água. Junte a água das
castanhas a um pouco de água quente que vai servir para cozer o arroz.
Quando o arroz
estiver meio cozido e com pouca água junte o leite e os paus de canela, e deixe
acabar de cozer.
Quando o arroz
estiver bem cozido junte o açúcar, mexa e junte a manteiga e a castanha cozida.
Deixe um pouco mais ao lume, sem que deixe secar.
Retire do lume e
deixe repousar alguns minutos.
Distribua por
pequenos recipientes e enfeite com canela em pó.
Nota: O açúcar só
deve ser colocado depois do arroz estar bem cozido porque senão encrua o arroz.