Convidei para Jantar # 10 - Fernando Pessoa...
Assim,
delicadamente, perguntei, sem colocar nenhum peso nas palavras ou alguma
especial nota:
-Se
tivesses que escolher um poema, um qualquer, um que gostes particularmente,
qual seria, sabes?
-Um
poema?.... porquê?... em que contexto?
-Sem
contexto... um poema que gostes muito. O que te vem logo à cabeça.
-Ah
então é fácil, Liberdade de Fernando Pessoa.
-Assim
directo, sem hesitação?
-Sim.
Sabes qual é?
-Não
tenho ideia...sabes que não sou grande fã de poesia....
-Então
espera um pouco.
Alguns
minutos depois, sobre a nossa cama pousavam alguns livros de Fernando Pessoa...
Passou as mãos sobre eles, e numa escolha sem hesitações, pegou num deles e
disse:
-Então
escuta:
Ai que
prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
e entrando pela noite, de chávena de chá fumegante
na mão, fiquei delicadamente a escutar a paixão com que me falava e contava
acontecimentos, encontros e desencontros, curiosidades e outras coisas mais
sobre Pessoa, ...... e poemas, muitos poemas de Fernando Pessoa e seus
heterónimos e heterónimos de heterónimos.
E assim, juntos, numa "receita" a 4
mãos, convidámos Fernando Pessoa a partilhar o nosso chá e um delicioso
biscoito, e a ser o nosso convidado no sempre especial Convidei para Jantar da Anasbageri, que este mês está
poeticamente instalado na confeitaria Come
chocolates, pequena.
Grades
Ingredientes
(12 a 14 unidades):
200g de Manteiga
250g de Açúcar
6 C. Sopa de Amêndoa ralada
2 Ovos batidos
Raspa de 1/2 limão
Farinha de trigo q.b.
1 C. Sobremesa de Canela em pó
Preparação:
Corte a manteiga aos pedacinhos para uma caçarola
de fundo espesso. Polvilhe com o açúcar e junte os ovos batidos. Leve ao lume,
muito baixo, sem parar de mexer com vara de arames até a manteiga derreter, sem
deixar ferver.
Retire do lume e junte a amêndoa ralada, a canela e
a raspa do limão. Misture bem com a vara de arames. Junte farinha de trigo em
chuva, com a ajuda de uma peneira ou passador, e em quantidade suficiente até
obter uma massa tendível. Deixe arrefecer.
Tenda rolinhos finos e molde pequenas grades num
tabuleiro untado ou forrado com folha de silicone. Leve ao lume pré-aquecido a
180ºC, até as grades ficarem firmes, sem as deixar secar demasiado.
Fonte: receita adaptada de Grades do Convento de
Lamego - Doces Conventuais
7 comments
Adoro de paixão Fernando Pessoa e os heterónimos dele.Este poema já conhecia uma parte mas não na integra!Adorei-o!!!
ResponderEliminarEstes teus biscoitos, o chá e ouvir poemas de Pessoa...Belo serão sim srª!
Bjinho
Rita
O marido escolheu bem ;) Muito bem mesmo. E estas grades ficaram-me debaixo de olho. Obrigada pela participação :)
ResponderEliminarMais um fabuloso poema de Fernando Pessoa! Alma tão fabulosa!
ResponderEliminarComo essa grades, interessantes...misteriosas! :)
Beijinhos
Adorei lei este post!
ResponderEliminarSó faltava uma chávena de chá e as grades a acompanhar a leitura!
Beijinhos
http://fabricocaseiro.blogspot.com/2013/03/arroz-malandro-de-pescada-e-camarao.html
gostei muito desse dialogo entrelaçado
ResponderEliminar:)
Pessoa..é sempre Pessoa
Ora aqui está mais um poema lindo que eu adoro! Boa participação, perfeito!
ResponderEliminarGostei muito da sua participação. Vi a sua participação na Cristina e vim fazer-lhe uma visita. Gostei muito da participação e do seu Blog. Já sou sua seguidora. Aguardo uma visita sua no meu recanto de Receitas de Sedução.
ResponderEliminarBeijinhos;
Aurea Sá