Pitos de Santa Luzia

Para que não haja confusões, convém referir, que o pito é um bolo com recheio de doce de abóbora!



Estes bolinhos, são um ex libris de Vila Real, e tiveram origem no antigo Convento de Santa Clara, pelas mãos de Maria Ermelinda Correia, que veio a ser mais tarde a Irmã Imaculada de Jesus, e cuja história podem ficar a conhecer depois da receita.

Da pesquisa que fiz, esta versão, baseada numa receita do livro Doces Conventuais, da Biblioteca Activa, não respeita a receita original e tradicional destes bolinhos, mas ainda assim é maravilhosa.
Originalmente a receita é feita com banha de porco e leite, e a massa leva açúcar, que na minha opinião não faz falta, porque o doce de gila compensa perfeitamente a sua ausência na massa. Também os fiz mais pequenos do que aparenta ser o tamanho original dos bolinhos, mas achei que assim ficavam mais bonitos, ao tamanho de uma dentada.
Encontram a receita original aqui.

Estes bolinhos foram aprovados por todos cá em casa. Muito simples de fazer e verdadeiramente deliciosos.
Recomendo vivamente!


  
Ingredientes (rende cerca de 30 unidades):
200g de Farinha de Trigo
Sal fino
80g de Manteiga, sem sal, à temperatura ambiente
5 c. sopa de Água
250g de Doce de Gila
Açúcar em Pó, para polvilhar


Preparação:
Peneire a farinha com uma pitada de sal fino para uma tigela. Junte a manteiga e amasse, adicionando, aos poucos a água até obter uma massa homogénea. Poderá fazer esta operação numa batedeira munida de gancho para massas fortes.
Forme uma bola, tape com um pano, e deixe repousar 1 hora.
Estenda a massa numa superfície levemente enfarinhada, até obter uma folha fina. Corte-a aos quadrados (usei um cortador de biscoitos com 6,5cm), e no meio de cada um coloque 1 colher de café de doce de chila.
Puxe as pontas da massa e una-as, formando trouxinhas. Tenha o cuidado de unir bem todos os lados e as pontas, senão o doce sairá durante a cozedura. Cole a massa com um pouco de água, se achar necessário.*
Coloque os pitos num tabuleiro forrado com papel vegetal ou tapete de silicone, e leve ao forno durante cerca de 30 minutos, ou até que a massa esteja cozida e douradinha.
Retire do forno, deixe arrefecer e polvilhe com açúcar em pó.

*Já fiz esta receita duas vezes, numa colei a massa com água e noutra não. O resultado é o mesmo, desde que se tenha cuidado em unir bem a massa.



História dos Pitos de Santa Luzia
Maria Ermelinda Correia, tinha um defeito: era muito gulosa. Este facto obrigou seus pais a enclausurarem-na no convento de Santa Clara, na esperança de transformar o pecado em virtude.

A Irmã Imaculada tornou-se devota de Santa Luzia, padroeira dos cegos e das coisas da vista. Um certo dia estava a irmã a aplicar os curativos nos seus doentes (feridas, contusões e inchaços nos olhos), com uns pachos de linhaça, que eram uns quadrados de pano-cru onde se colocava a papa, dobrando as pontas para o centro para não verter a poção - usados como pensos para os ferimentos, quando de repente teve uma visão!

Correu para a cozinha e fez a massa de farinha e água e cortou-a em pequenos quadrados. Tinha consigo o cibo do açúcar que lhe cabia na ração, e fez uma compota de abóbora. À imagem dos pachos dobrou a massa por cima da compota e levou ao forno a cozer. A seguir despachou-se a esconde-los, pois estava proibida de ser gulosa.

A caminho, cruzou-se com a madre superiora que era cega. A madre perguntou desconfiada, o que leva no tabuleiro. Cheirando o perfume adocicado, a Irmã Imaculada apressa-se a responder que são pachos de linhaça para os doentes do dia seguinte.

À noite na cela, a irmã Imaculada sossegou a alma e não sequer se sentia culpada, pois sempre ouviu dizer que "do que não se vê, não se peca".


No dia de Santa Luzia, 13 de Dezembro, em Vila Real, manda a tradição que as raparigas da cidade ofereçam o pito aos rapazes seus eleitos, para que no dia 3 de Fevereiro, dedicado na liturgia a São Brás, os rapazes retribuam a oferta com a gancha.  A gancha é um rebuçado em forma de báculo bispal.

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8 comments

  1. Nunca comi, mas conhecia de nome. Acho que iria adorar, se provasse, adoro doce de abóbora!!
    http://bloglairdutemps.blogspot.pt/

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  2. Náo conhecia, nunca comi, mas gostei do aspecto e da história.
    Desejo um feliz natal e tudo de bom 
    Gulosoqb

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  3. Não conhecia e gostei do resultado final. Gosto de doce de gila por isso, acho que iria gostar dos Pitos de Santa Luzia. Até o nome é engraçado :)
    Bjinhos e bom Natal para si e para os seus.

    Tânia Tiago
    Bimby & sabores da vida

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  4. Adoro coisas com abóbora! Os bolinhos estão lindos :)

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  5. adorei poderias repetir um dia destes essareceita

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  6. Esta história foi inventada. Os pitos são originários da aldeia da Ermida. No século XI pertencia à paróquia da Cumeira e mais tarde viria a pertencer à paróquia de Folhadela. Quando essa Maria Ermelinda nasceu já se faziam os pitos na Ermida.

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    1. Olá José,
      A história aqui descrita é efectivamente a que aparece em dezenas de referências. A nossa doçaria conventual é cheia de histórias, e é muito comum a reclamação desde ou daquele doce para uma determinada aldeia, cidade ou região como sendo sua. Por isso não duvido que o diz possa ser verdade, embora não seja essa a versão mais conhecida.
      Se tiver mais alguns pormenores sobre essa versão seria interessante deixá-los aqui.
      Obrigado
      Marta

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